Vamos iniciar esta
reflexão fazendo referência à etimologia da palavra Misericórdia. Como resultado das palavras latinas: misere, cor e dare que, juntas significam dar
o coração a aqueles/as que são vitimados/as pela miséria. E pode-se entender a miséria como fragilidade,
falta de algo, ausência dos direitos fundamentais, até a exploração e exclusão
de inúmeras pessoas e grupos, pelo Capitalismo Neoliberal, hoje globalizado.
Dando mais um
passo, é bom ter em conta que o povo de Israel, segundo relata o Primeiro
Testamento da Bíblia, faz uma experiência da misericórdia de Deus. A
partir dessa experiência, define a Deus através do termo hebraico YHWH que significa “Deus está”. “Estou contigo”. “Ele está no meio de Nós”. Ou seja, “Deus presente sempre!”(Ex. 3,14-15)
na realidade de dor, sofrimento, exploração e violência do cotidiano da vida
desse povo. A diferença de Deus chamado de Altíssimo, que está distante da
realidade que vive as pessoas, sem poder tocá-la nem deixar-se tocar por ela.
A abertura do
Jubileu Extraordinário da Misericórdia, convocado pelo Papa Francisco para o
dia 8 de Dezembro de 2015, é uma belíssima oportunidade para as pessoas cristãs
fazermos uma inédita experiência de misericórdia. Para isso, é bom deixar que
as palavras do Papa, que vem confirmar o que estamos refletindo, se façam carne
de nossa carne e nos instiguem a um compromisso concreto:
“Neste Ano Santo, poderemos fazer a
experiência de abrir os corações a aqueles/as que vivem nas mais variadas
periferias existênciais (...). Quantas situações de precariedade e sofrimento
presentes no mundo atual! Quantas feridas gravadas na carne de muitos/as que já
não tem voz, porque o seu grito se foi esmorecendo e se apagoupor causa da
indiferença dos povos ricos. Neste Jubileu, a Igreja sentir-se à chamada ainda
mais a cuidar destas feridas, a alivia-las com o óleo da consolação, a
enfaixa-las com a Misericórdia, e trata-las com a solidariedade e atenção
devidas(...) Abramos os nossos olhos para ver as misérias do mundo, as feridas
de tantos irmãos e irmãs privados/as de sua própria dignidade e sintamo-nos
desafiados a escutar o seu grito de
ajuda. Que o seu grito se torno o nosso e, juntos/as possamos romper a barreira
da indiferença.”(
O Rosto da Misericórdia págs. 21 e 22).
Em sintonia com as
palavras de Francisco, queremos finalizar trazendo à tona a fundadora da nossa
Congregação de Irmãs Oblatas do Santíssimo Redentor, Antonia de Oviedo e Schönthal. Antonia junto com o Pe. Serra (Fundador) abre portas à Misericórdia às mulheres
em situação de prostituição pós-revolução industrial em Espanha. Ela no topo de
seu caminho de Espiritualidade experimenta a identificação com esse Deus que tem entranhas de misericórdia. Sente
que se lhe "contorcem a suas entranhas” (Cfr. Oseias 11, 8), até a indignação
profética, diante da realidade de opressão e injustiça, desse grupo de
mulheres. Consegue nesta caminhada de sua vida de Oblata que, a justiça e a
misericórdia andassem de mãos dadas. Mas para isso teve que fazer algumas rupturas,
entre outras, romper com o palácio que era o lugar do poder, da superioridade,
da distancia. Aquele lugar que não lhe permitia enxergar, nem sentir e, menos
ainda tocar e deixar-se tocar, pela realidade gritante das mulheres prostituídas que, se encontravam doentes e isoladas nos porões do Hospital São
João de Deus em Madri. Concretizada essa ruptura consegue aproximar as mulheres prostituídas a sua vida, amá-las com compaixão, até ver nelas a “imagem do
Redentor”.
Neste sentido o caminho
de espiritualidade percorrido por ela, lhe exigiu, como consequência da
concretização dessas rupturas, uma mudança de seu nome. Adquiriu assim uma nova
identidade, um nome novo, porque abriu de par em par, as portas de seu coração
a compaixão, a misericórdia. Portanto, chamou-se de MISERICÓRDIA. E faz ainda uma proclamação cheia de novidade da Boa
Nova do Reino: “Eu me chamo Misericórdia”. E sua prática e vivência cotidiana,
de mãos dadas com suas irmãs de comunidade e as mulheres em situação de
prostituição, a confirmam.
Seu nome é agora Antonia Maria da Misericórdia e está
centrado nessa característica essencial do Deus de Jesus. É a partir desse nome
novo que, Antonia convida-nos a cada dia, a seguir as pegadas de Jesus, do
Redentor e libertador de nossas vidas, nas suas pegadas.
Ir. Manuela
Rodríguez Piñeres(OSR).
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