Em Lc 15 está a chave de interpretação da obra de Jesus: Deus sai à busca do perdido.
Os vv. 1-3, que são introdutórios, apresentam o contexto e a motivação das parábolas. Os cobradores de impostos e os pecadores se aproximam de Jesus para ouvi-lo, enquanto os fariseus e os escribas criticam a atitude de Jesus, que toma refeição com os pecadores.
Sabe-se que participar da mesma mesa significa comungar das ideias e do estilo de vida. Ao partilhar a refeição com os pecadores, Jesus põe em jogo sua reputação de homem de Deus. Mas as parábolas que ele contará vão contrapor-se às murmurações dos seus adversários, mostrando a ação do Pai que se reflete na atuação de Jesus.
O texto se divide em duas cenas: o filho mais jovem (15,11-24) e o filho mais velho (15,25-32). Estas são unidas pela ação do pai, o protagonista de todo o relato. O ponto central é o encontro com o pai, comentado pelo refrão que sela toda a cena: “Este meu filho estava morto e tornou a viver, estava
perdido e foi encontrado” (15,24).
Os vv. 11-16 narram a situação do filho mais novo. Sua emancipação e o desperdício de sua herança. A herança não significa exatamente bens materiais, mas tudo o que sustenta a vida. O filho mais novo se distancia, rompe com o pai; vai para uma terra longínqua, dissipa os bens e, finalmente, chega a
uma situação desumana, pois cuidar dos porcos é o nível mais baixo que um judeu poderia descer em sua dignidade. Fato mais agravante é não poder alimentar-se sequer da ração destinada a esses animais.
Os vv. 17-21 narram o processo de retorno à casa paterna. Inicialmente, com a tomada de consciência sobre a vida digna
que poderia ter na casa do pai como empregado.
A lembrança da fartura é contraposta
à sua situação de fome e miséria. Num primeiro
momento, é a fome que o impele a
voltar para casa. Mas, sabedor de seu erro,
reconhece que não é digno de ser acolhido
como filho. Por fim, recordando-se da bondade
do pai, que não maltratava seus empregados,
retorna em busca de pão. O pai,
ao avistá-lo, corre-lhe ao encontro, movido
de compaixão, envolve-o num abraço e cobre-o
de beijos – ou seja, acolhe-o como filho
amado. Ordena aos empregados que
tragam roupa nova, joia e sandália, para que
o filho seja restituído em sua dignidade filial.
Em seguida, exige que se celebre o retorno
à vida. É a alegria pelo pecador que
foi convertido, pelo perdido que foi encontrado.
Aqui se justifica a atitude de Jesus em
partilhar a refeição com os pecadores.
Nos vv. 25-32 entra em cena o filho mais
velho. Este se ressente porque o pai acolheu
o filho mais novo sem reservas. O ressentimento
o leva a manter-se fora, a não comungar
com a atitude paterna, e por isso até critica
o pai. Este sai ao encontro desse filho também
e suplica-lhe que entre, pois é necessário alegrar-se e festejar o retorno do filho
mais jovem. Contudo, o filho mais velho está
enciumado porque não mantém com o pai
uma relação afetiva, mas, sim, serviçal.
A narrativa termina com um convite para
celebrar o retorno do pecador arrependido.
Jesus mostra que o Pai sai à busca dos perdidos
e festeja porque são resgatados. Essa era
também a atitude de Jesus e deve ser a nossa.
Fonte: Revista Vida Pastoral
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