...Antonia chega a viver na compaixão, não só dá
o seu dinheiro, mas seu tempo, sua pessoa, as aloja em sua própria casa e as
senta à sua mesa. Desde este ponto podemos entender esta expressão sua:
“Todas iguais, todas irmãs em tudo”,
pois para ela “sua experiência de Deus, é
Comunidade, reciprocidade dentro das diferenças e não dominação; ternura, não
violência; encontro, não marginalização; acolhida, nunca distanciamento;
libertação, não condena” (Gómez Rios, pág. 68).
Antonia chegou a este ponto do caminho da
misericórdia experimentando “que se lhe revolvem as entranhas” diante do
sofrimento das mulheres com as que compartilha sua casa, até a indignação que a
leva a denunciar as injustiças das quais são vítimas. É que a justiça e a
misericórdia vão de mãos dadas na vida de Antonia. Chamou-se misericórdia e
o seu dia a dia o manifesta.
Antonia encarnou o sentido bíblico da
compaixão que sempre está ligada à justiça e ao direito. Vejamos neste sentido
como age Antonia Maria da Misericórdia quando o prefeito de Ciempozuelos lhe
exige que ela não pode aceitar no asilo a nenhuma mulher que não esteja com os
devidos documentos: “Não deve ser
admitida no seu Centro nenhuma pessoa que não tenha seus devidos documentos”
Com isso tentava esta vez o prefeito prejudicar o direito à identidade como
pessoas. “Sr. Prefeito, que documentos
tem para apresentar? O único que tem é o de prostitutas(que a mesma prefeitura
fornece para elas) e com ele se lhes fecham definitivamente
todas as portas(...)”(...) “A ameaça que o Senhor me faz é a primeira que tenho
recebido na vida e carece de toda fundamentação; se o Senhor quer levar para
prisão todas as sessenta pessoas que moram na casa estamos prontas. Assim por
alguns dias me poupará a preocupação de providenciar-lhes comida. Pode
acontecer isto Senhor Prefeito? Deixe
às Irmãs querer às mais pobres, que isto é muito bom para o povoado.” (Gomes Rios,
pág. 54).
Destas práticas concretas, orientadas pelo “princípio
da misericórdia” foi tecida a vida de Madre Antonia. Ficamos contemplando essa experiência fundante que a levou a
colocar na regra de vida das Oblatas, um quarto voto e hoje poderíamos dizer,
de toda pessoa que queira viver a espiritualidade Oblata. Este voto é: “a
paixão pela causa das mulheres em contexto de prostituição e outras exclusões”.
Ou tomando suas palavras: “O zelo pela salvação das almas”. Até
fazer inerente na nossa vida a experiência de misericórdia de Antonia refletida
nesta expressão:
Texto: Ir. Manuela Piñeres - 2006
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