O evangelho nos ensina a modéstia e a gratuidade na perspectiva do Reino de Deus. Lucas gosta de apresentar Jesus como viajante e hóspede: a comunhão de mesa é o lugar da amizade, e Jesus quer ser amigo. Mas amigo de verdade não esconde a verdade. Na casa de um fariseu, de modo surpreendente e, segundo os nossos critérios, um tanto indelicado, Jesus ensina algumas regras: 1) aos convidados, ensina a não procurar o primeiro lugar, para que o dono da casa possa apontar o lugar mais importante; 2) ao anfitrião, ensina a não convidar as pessoas de bem, mas os que não podem retribuir, pois só assim demonstramos gratuidade e magnanimidade. Em outros termos, Jesus ensina a saber receber de graça e a saber dar sem intenções calculistas. O sentido profundo dessa lição se revelará na Última Ceia (22,24-27), em que o anfitrião é o Servo, que dá até a própria vida.
Jesus é um desses hóspedes que não ficam reféns de seus anfitriões. Já o mostrou a Marta (cf. Lc 10,38-42, 16º domingo); mostra-o também no evangelho de hoje. Olhemos o contexto da perícope. O anfitrião é um chefe dos fariseus. A casa está cheia de seus correligionários, não muito bem-intencionados (14,2). Para começar, Jesus aborda o litigioso assunto do repouso sabático, defendendo uma opinião bastante liberal (14,3-6).
Depois (em 14,7, onde começa o texto de hoje) critica, com uma parábola, a atitude dos fariseus, que prezam ser publicamente honrados por sua virtude, também nos banquetes, onde gostam de ocupar os primeiros lugares (cf. Lc 11,43). Alguém que ocupa logo o primeiro lugar num banquete já não pode ser convidado pelo anfitrião para subir a um lugar melhor; só pode ser rebaixado se aparecer alguma
pessoa mais importante. É melhor ocupar o último lugar, para poder receber o convite de subir mais. Alguém pode achar que isso é esperteza. Mas o que Jesus quer dizer é que, no Reino de Deus, a gente deve adotar uma posição de receptividade, não de autossuficiência.
Segue-se outra lição, também relacionada ao banquete, porém dirigida ao anfitrião (um fariseu: cf. 14,1). Não se devem convidar os que podem convidar de volta, mas os que não têm condições para isso. Só assim nos mostraremos verdadeiros filhos do Pai, que nos deu tudo de graça. É claro que tal gratuidade pressupõe a atitude recomendada na parábola anterior: o saber receber. Portanto, a mensagem do evangelho de hoje é: saber receber de graça (humildade) e saber dar de graça (gratuidade). Isso ficou ilustrado na primeira leitura, que sublinha a necessidade da humildade, oposta à autossuficiência.
Pe. Johan Konings, sj
Fonte: Revista Vida Pastoral
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