Por:
Cláudio Márcio
Quem é o meu
próximo? (Lc. 10,25-37) Essa é uma questão
central para nossa caminhada enquanto cristãos reformados e ecumênicos na
América Latina, pois, durante muito tempo, fomos tratados como corpo objeto que
podia ser vendido, escravizado, brutalizado, acorrentado, humilhado e
massacrado sem piedade alguma. Ter ou não ter alma? Humano ou não humano?
Fonte: Blogger Diálogos pela Liberdade |
Quem é o sua/seu próxima/o?
O
processo civilizador cristão, machista, branco, europeu (com a Bíblia na mão e
a cruz que se transformou em espada) gerou muita violência e opressão para
povos originários e africanos. Sabe-se que em nome de deus, da ciência, da
economia, da modernidade e da tecnologia, grupos sociais subjugaram outros
grupos e muito sangue foi derramado. Aqui não cabe saber quem é mais ou menos
culpado, mas, faço apenas um convite para uma reflexão mais séria e complexa
que precisa ser estabelecida. Há redes construídas dentro de processos
históricos e sociais e a bíblia, por exemplo, fez parte da construção do
ocidente com muitas ambivalências de vida e morte.
Numa abordagem sócio-antropológica, é possível afirmar
que cada grupo social possuí suas regras e paradigmas de socialização, isto é,
seus ritos de passagem, seus valores, suas múltiplas formas de viver e
interpretar o cotidiano. Com efeito, há uma diversidade de expressões culturais
que deve ser respeitada e garantida no processo histórico.
Entretanto,
é importante ressaltar que segundo o sociólogo francês Émile Durkheim: “ao
classificar algo você hierarquiza”, assim sendo, o modelo europeu foi imposto
como superior e naturalizado ao longo dos anos. Todavia, há e sempre haverá,
resistências e maneiras de (re)criar a vida e as relações sociais.
Uma das formas de resistir é a partir da releitura do texto sagrado dos cristãos, logo, o que
está escrito na Lei? Como lês? Não basta pertencer a tradição e ou ler a
bíblia. O questionamento de Jesus é
de extrema relevância para nossa interpretação hoje, pois, sem dúvida alguma, a
narrativa bíblica desafia-nos mais uma vez para o dilema da alteridade. Como ser cristão e não viver em solidariedade?
Como ser cristão e não defender a causa dos imigrantes? Como achar que é
normal gays sangrarem até a morte? Como se conformar com o extermínio da
juventude negra? Como ficar em silêncio diante de mulheres que são agredidas?
Em MT 23.27-39 há uma denúncia da espiritualidade superficial, fétida e aparente que mata os profetas
e rejeita o colo amoroso de Deus. A experiência de Jesus de Nazaré é um grande convite para nossa conversão, ou seja,
o amor precisa vencer o ódio. É preciso aprender a perdoar, a mudar, a recriar,
a seguir. O outro é o espelho da nossa humanização mútua, isto é, o convite de
Jesus é para uma espiritualidade da solidariedade, do cuidado, da compaixão e
do serviço.
É necessário agir de maneira íntegra e com empatia, uma vez que: “não há judeu nem grego; não há escravo nem livre; não há homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus”
(Gl 3.28).
Irmãos e irmãs, a responsabilidade
que temos é muito grande, todavia, sabemos também que é uma alegria e um prazer
servir ao Senhor. Lembrem-se: não é suficiente ser religioso! O que temos feito
com aqueles e aquelas que encontramos no caminhar? Encerro com um fragmento do
diálogo dos personagens Chicó e João Grilo no filme O Alto da Compadecida:
“Jesus às vezes se disfarça de mendigo pra testar a bondade dos homens”.
Fonte: Blog Dialogando na Serra |
Matéria Extraída do Blog: Dialogando na Serra
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