É muito difícil conceituar-se a vida. Daí as várias definições que ela tem recebido no decorrer dos séculos...“Viver é optar e apaixonar-se pelo que se optou”. Frase do filósofo dinamarquês Kierkegaard, considerado o pai do existencialismo.
Não é preciso dizer que esta definição não diz respeito à vida como distinção entre seres animados e inanimados, mas na sua dimensão de vida humana, porque está embutida nela o dom que Deus concedeu exclusivamente ao ser humano: a liberdade. Em toda a escala zoológica, só a ele foi dado o poder de escolher. Enquanto os animais são dirigidos pelos instintos, ele tem possibilidade de fazer suas opções, até o dia em que a morte o tirar deste mundo, ou a sua razão, quer pelo anos, quer por doença, mostrar-se incapaz de escolher. De acordo com a definição acima, a realização humana depende das escolhas de cada um e da maneira como se mostra fiel a elas: “...apaixonar-se pelo que se optou”. As opções tanto concorrem para a dinâmica da vida, como podem constituir-se um obstáculo para a felicidade pessoal e desenvolvimento da coletividade. Por isso, a liberdade de escolha é um trunfo de que a pessoa dispõe para viver, com coerência, a sua peregrinação terrena, mas é também um motivo de imensa responsabilidade.
A neutralidade diante de importantes fatos da vida, o “ficar em cima do muro”, o “lavar as mãos”, quando as circunstâncias exigem uma tomada de posição, são erros contra a liberdade cometida pelo homem. É covarde quem foge a tal desafio, porque perde a oportunidade de se afirmar como criatura de decisão. Sem dúvida, qualquer opção representa um risco para a pessoa, porque existem escolhas de consequências irreversíveis. Mas é bom lembrar que não avança no seu amadurecimento quem deseja instalar-se na certeza e na segurança. A pessoa é pressionada a se definir não apenas em momentos de decisões radicais, como em relação a uma profissão ou um casamento, mas a cada passo dado na estrada do tempo. Ele vive escolhendo, e todos os seus atos representam uma opção entre as duas propostas que o cotidiano sugere a cada minuto: a proposta do bem e a do mal.
Diante da importância da opção para todo homem, e já que a escolha faz parte do cotidiano, é indispensável que a pessoa seja educada para saber escolher, a partir dos critérios da sua consciência, dos valores que dignificam o indivíduo e contribuem para o bem comum. Optar é exigência da condição humana e dela depende o sentido que cada um dá ao seu percurso pelo mundo.
Apaixonar-se pela opção é algo mais indispensável para que cada pessoa, sobretudo os cristãos, não sejam “os mornos” do Apocalipse, ameaçados de ser vomitados por Deus. É o entusiasmo, a esperança, a persistência, a vontade de ser melhor que devem identificar o homem em todas as cenas de sua vida.
Coluna – Fé e Cidadania - Folha de S.Pedro maio 2007
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