A compreensão do messianismo de Jesus por parte de seus discípulos foi acontecendo lentamente. Imersos na ideologia religiosa do Templo, esperavam um Messias com poder de monarca, da linhagem de Davi, capaz de libertar o povo da dominação romana.
Portanto, se essa era a mentalidade dominante a respeito do Messias, ela deveria causar grandes problemas para os políticos da época. De fato, vários líderes messiânicos foram simplesmente exterminados antes de Jesus. Nenhuma das respostas dadas a Jesus sobre o que as multidões diziam a seu respeito contempla a ideia de Messias. Lucas reserva essa concepção para Pedro, o representante dos discípulos: “Tu és o Messias de Deus”.
Imediatamente Jesus os proíbe severamente de espalhar essa afirmação para outras pessoas. Ele conhece os seus seguidores e sabe que estão ainda fanatizados pela ideologia dominante. Podem dar azo ao seu fanatismo e comprometer a missão de Jesus. Eles sabem que Jesus é o Messias, mas ainda não compreendem que tipo de Messias é Jesus.
Segundo Lucas, Jesus vai dedicar uma caminhada inteira (novo êxodo), da Galileia a Jerusalém, ao empenho especial de educar os discípulos na verdadeira compreensão do Messias. O início dessa caminhada se dá em 9,51, quando Jesus “toma a firme decisão de partir para Jerusalém”. Antes disso, ele faz dois anúncios de sua paixão e morte. No primeiro, logo após a declaração teórica, por parte dos discípulos, de que ele é o Messias: “É necessário que o Filho do homem sofra muito, seja rejeitado pelos anciãos, pelos chefes dos sacerdotes e escribas, seja morto e ressuscite ao terceiro dia” (9,22). No segundo anúncio (9,44-45), Jesus prepara os discípulos para o destino do Messias, alertando-os: “Abram bem os ouvidos... O Filho do homem será entregue às mãos dos homens”. O terceiro anúncio (18,31-34), Jesus o fará em plena caminhada, próximo a Jerusalém: “De fato, ele será entregue aos gentios, escarnecido, ultrajado, coberto de escarros, depois de açoitá-lo, eles o matarão...”. Apesar da tríplice insistência, os discípulos “não entenderam nada”.
A cruz e a morte estão intimamente ligadas ao messianismo de Jesus. A concepção triunfalista cai por terra: “Se alguém quer vir após mim, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz cada dia e siga-me”. A escolha de Jesus é o caminho do “servo sofredor”, inspirado no Segundo Isaías (Is 40-55). Decorre daí que o seguimento de Jesus se concretiza por meio de rupturas e opções: rupturas com toda forma de egoísmo e poder, com toda preocupação de buscar o brilho próprio dos que dominam; opções pelo serviço humilde e abnegado em vista de uma sociedade de amor, de justiça e de paz. De fato, Jesus não anuncia a sua morte como fato definitivo. A ressurreição é o destino dos que dão a vida pelo Reino. O êxodo pelo qual Jesus tem de passar, incluindo a própria morte, vai possibilitar a entrada na terra da liberdade e da vida plena, onde já não haverá egoísmo nem dominação de nenhuma espécie.
Celso Loraschi
Fonte: Revista Vida Pastoral
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