sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Um lugar para Jesus

Nem o melhor poeta ou o mais  famoso escritor conseguiria descrever, com a simplicidade e a objetividade do evangelista São Lucas, o que aconteceu na noite de Natal: “Enquanto (José e Maria) estavam em Belém, completaram-se os dias para o parto, e Maria deu à Luz o seu filho primogênito. Ela o enfaixou e o colocou na manjedoura, pois não havia lugar para eles na hospedaria” (Lc 2,6-7).

Essa criança já tinha um nome, pois, a Anunciação, o Anjo Gabriel tinha dito: “Conceberás e darás à luz um filho, e lhe porás o nome de Jesus” (Lc 1,31). E quem era Jesus? Segundo o Anjo Gabriel, “Ele será chamado Filho do Altíssimo”; ocupará o trono de Davi, seu pai; “reinará para sempre sobre a descendência de Jacó, e o seu reino não terá fim” (ver Lc 1,32-33). Para José, o Anjo do Senhor havia até explicado a razão da escolha do nome Jesus: “Tu lhe porás o nome de Jesus, pois ele vai salvar o seu povo dos seus pecados” (Mt 1,21).

O Filho do Altíssimo, o novo ocupante do trono de Davi, aquele cujo reino não terá fim, o que foi esperado durante longos séculos pelo povo de Israel, foi colocado em uma manjedoura. A natureza mineral dava ao Filho do Altíssimo uma gruta; o mundo animal lhe emprestava o tabuleiro onde era colocada sua comida; na cidade dos homens, contudo, não havia lugar para o Filho do Altíssimo.

Refletindo sobre a constatação: “Não havia lugar para eles na hospedaria”, o Papa emérito Bento XVI observou: “De algum modo, a humanidade espera Deus. No entanto, quando chega o momento, não tem lugar para Ele. Ela está tão ocupada consigo mesma, sente uma necessidade tão imperiosa de dedicar todo o espaço e todo o tempo para as próprias coisas, que não resta nada para o outro: para o próximo, para o pobre, para Deus. E quanto mais ricos se tornam os homens, tanto mais preenchem tudo de si mesmos” (24/12/2007).

Felizmente, a cena do Evangelho do Natal não termina com a afirmação “Não havia lugar” para ele! Houve pessoas que o acolheram. Maria, por exemplo, havia-se preparado para o nascimento de seu Filho: envolveu-o com faixas; José já começou a acolhê-lo quando, em sonhos, ouviu o Anjo lhe pedir que não tivesse receio de receber Maria como sua esposa, pois o que nela tinha sido gerado era obra do Espírito Santo (ver Mt 1,20).

Jesus foi acolhido por pastores dos arredores de Belém, segundo a descrição do evangelista Lucas: “Naquela região havia pastores...”. Tendo visto anjos do Senhor envolvidos em luz e tendo ouvido seu anúncio - “Nasceu para vós um salvador... Encontrareis um recém-nascido envolvido em faixas e deitado em uma manjedoura...” -, os pastores foram a Belém. Com sua decisão de ir ao encontro  do Salvador, eles passaram a  representar todos aqueles que, ao longo dos séculos, acreditariam nos sinais de Deus e se voltariam para Seu Filho. Mais tarde, Jesus seria acolhido também  pelos Magos do oriente: que reconheceram sua divindade, prostraram-se diante dele e o adoraram, presenteando-o com os seus dons.

No Natal, dando-nos Seu Filho muito amado, o Pai vem ao encontro da humanidade – isto é, vem ao encontro de cada um de nós, para que nos tornemos Seus filhos e filhas. Essa certeza levou o Papa Leão Magno (440 – 461) a proclamar: “Reconhece, cristão, tua dignidade!”.

Os primeiro cristãos, ao olhar em redor de si, tomavam consciência do mal, do pecado e de inúmeras manifestações de egoísmo, e se perguntavam: “Afinal, que novidade trouxe o Senhor em sua vinda ao mundo?”. E eles mesmos respondiam: “Jesus trouxe toda a novidade, trazendo-se a si mesmo” (Santo Ireneu). Jesus Cristo é a grande novidade do mundo. Aceitando-o como Senhor de nossas vidas, também para nós começa uma nova época, uma nova história.

Com o carinho de Maria, com a fé profunda de José, com a alegre expectativa dos pastores, vamos, pois, acolher aquele que nasce em Belém. A cidade de Belém é a cada de cada um de nós; é nosso coração; é o altar onde Cristo se oferece por nós e conosco ao Pai. Hoje “nasceu para nós um menino” (Is 9,5). Hoje nasceu para nós o Salvador. 

Bem vindo menino Jesus!

Dom Murilo S. R. Krieger, SCJ
Fonte: Revista Mensageiro:  Seção Meditação – dezembro 2014

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