domingo, 6 de março de 2016

Reflexão do Evangelho (Lc 15,1-3.11-32)

Celebraram o retorno do filho à casa paterna.

Em Lc 15 está a chave de interpretação da obra de Jesus: Deus sai à busca do perdido.

Os vv. 1-3, que são introdutórios, apresentam o contexto e a motivação das parábolas. Os cobradores de impostos e os pecadores se aproximam de Jesus para ouvi-lo, enquanto os fariseus e os escribas criticam a atitude de Jesus, que toma refeição com os pecadores.
Sabe-se que participar da mesma mesa significa comungar das ideias e do estilo de vida. Ao partilhar a refeição com os pecadores, Jesus põe em jogo sua reputação de homem de Deus. Mas as parábolas que ele contará vão contrapor-se às murmurações dos seus adversários, mostrando a ação do Pai que se reflete na atuação de Jesus.

O texto se divide em duas cenas: o filho mais jovem (15,11-24) e o filho mais velho (15,25-32). Estas são unidas pela ação do pai, o protagonista de todo o relato. O ponto central é o encontro com o pai, comentado pelo refrão que sela toda a cena: “Este meu filho estava morto e tornou a viver, estava
perdido e foi encontrado” (15,24).

Os vv. 11-16 narram a situação do filho mais novo. Sua emancipação e o desperdício de sua herança. A herança não significa exatamente bens materiais, mas tudo o que sustenta a vida. O filho mais novo se distancia, rompe com o pai; vai para uma terra longínqua, dissipa os bens e, finalmente, chega a
uma situação desumana, pois cuidar dos porcos é o nível mais baixo que um judeu poderia descer em sua dignidade. Fato mais agravante é não poder alimentar-se sequer da ração destinada a esses animais.

Os vv. 17-21 narram o processo de retorno à casa paterna. Inicialmente, com a tomada de consciência sobre a vida digna que poderia ter na casa do pai como empregado. A lembrança da fartura é contraposta à sua situação de fome e miséria. Num primeiro momento, é a fome que o impele a voltar para casa. Mas, sabedor de seu erro, reconhece que não é digno de ser acolhido como filho. Por fim, recordando-se da bondade do pai, que não maltratava seus empregados, retorna em busca de pão. O pai, ao avistá-lo, corre-lhe ao encontro, movido de compaixão, envolve-o num abraço e cobre-o de beijos – ou seja, acolhe-o como filho amado. Ordena aos empregados que tragam roupa nova, joia e sandália, para que o filho seja restituído em sua dignidade filial. Em seguida, exige que se celebre o retorno à vida. É a alegria pelo pecador que foi convertido, pelo perdido que foi encontrado. 

Aqui se justifica a atitude de Jesus em partilhar a refeição com os pecadores. Nos vv. 25-32 entra em cena o filho mais velho. Este se ressente porque o pai acolheu o filho mais novo sem reservas. O ressentimento o leva a manter-se fora, a não comungar com a atitude paterna, e por isso até critica o pai. Este sai ao encontro desse filho também e suplica-lhe que entre, pois é necessário alegrar-se e festejar o retorno do filho mais jovem. Contudo, o filho mais velho está enciumado porque não mantém com o pai uma relação afetiva, mas, sim, serviçal. A narrativa termina com um convite para celebrar o retorno do pecador arrependido. Jesus mostra que o Pai sai à busca dos perdidos e festeja porque são resgatados. Essa era também a atitude de Jesus e deve ser a nossa.

Fonte: Revista Vida Pastoral

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