segunda-feira, 20 de abril de 2015

Páscoa: Nossa Vocação

Falar de vocação é necessariamente falar do amor maior, cuja possibilidade não depende apenas de nós, mas do dom do Espírito que nos é dado a partir da nossa relação com Cristo, desde o nosso batismo. Quando se trata de discernir uma vocação, a pessoa sente no mais profundo do seu ser os apelos interiores do Espirito de Cristo, a quem se uniu pelo batismo e cuja voz nos revela as exigências da santidade e os meios para a construção do Reino de Deus.

São diversos os caminhos em que os cristãos procuram realizar a universal vocação à santidade. Todos esses caminhos têm em comum a dimensão pascal da vocação cristã. A vocação à santidade é inerente à vocação cristã, é chamado para todos: “A vontade de Deus é que sejais santos” (Ts 4,3). É um compromisso que diz respeito não apenas a alguns, mas os cristãos de qualquer estado ou ordem são chamados à plenitude da vida cristã e à perfeição da caridade.

A dimensão pascal da vocação cristã é participação na vocação de Jesus Cristo, que encarna na sua vida as exigências do amor do Pai pela humanidade, e que sacrifica a sua vida à realização desse desígnio de amor. E continua a ser assim. Aceitar uma vocação é dar prioridade absoluta, na nossa vida, à realização do desígnio de Deus, e isso só é possível participando da felicidade de Jesus Cristo. Seguir uma vocação é deixar-se atrair por Jesus Cristo. É enamorar-se por Jesus, o Cristo realisticamente concreto da Páscoa. É segui-lo como discípulo, começando por abraçar com amor, a própria cruz. É o evangelista João quem nos apresenta cruz de Cristo como realidade que nos atrai sinal de um caminho novo, o caminho da salvação: “E quando eu for elevado da terra, atrairei todos a mim” (Jo 12,32).

Nossa vocação passa de alguma maneira, e de diferentes formas, pelo monte Calvário, onde fora crucificado o Mestre que seguimos. Na realidade, os sofrimentos e as contradições que enfrentamos na vivência de nossa vocação nos aproximam de Jesus e nos permitem aprofundar o sentido de nossa opção e suas consequências para a sociedade, para a Igreja, para o Reino. Uma vocação sem cruz está longe da radicalidade evangélica. Cada dia nos é oferecida a oportunidade de dar testemunho de Jesus Cristo e de ratificar nossa opção vocacional. Nem a cruz, nem qualquer outra dificuldade poderá nos afastar do amor de Cristo (cf. Rm 8,15).

Acreditamos profundamente que a vivencia de cada vocação comporta uma experiência pascal, de dar testemunho da ressurreição do Crucificado. Por isso, celebrar a Páscoa, para nós, é tocar com as próprias mãos o Ressuscitado. Quem nos chamou não é outro, senão ele, morto e ressuscitado, que nos confirma na vocação e nos envia à missão. Cada vocação traz, dentro de si, um rosto de Jesus e o testemunha, anuncia, torna presente.

A Páscoa é uma festa vocacional onde cada um dos chamados renova e aprofunda sua opção pelo Ressuscitado.

Nivanda Viscardi
Religiosa Filha do Divino Zelo.
Fonte: Revista Rogate- 271 – Abril de 2009

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